quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Dieta Cetogênica e Câncer

 

    A dieta cetogênica é caracterizada por alto teor de lipídeos, proteínas em quantidade moderada e baixa ingestão de carboidratos (até 10% das calorias diárias necessárias). Seu objetivo é induzir o organismo a produzir corpos cetônicos, usados como fonte alternativa de energia pelo cérebro. Foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos, no início do século XX, para tratar epilepsia refratária a medicamentos (Pereira, 2010).

    Nos últimos anos, a dieta tem sido estudada como uma estratégia complementar no tratamento do câncer. A hipótese se baseia no fato de que células normais podem se adaptar ao uso de ácidos graxos e corpos cetônicos quando há baixa insulina, enquanto células tumorais dependem de glicose como combustível. Dessa forma, reduzir carboidratos poderia teoricamente limitar o crescimento tumoral. No entanto, o corpo humano ainda produz glicose pela gliconeogênese, e células cancerígenas são eficientes em aproveitar mesmo pequenas quantidades disponíveis. Além disso, dietas pobres em carboidratos reduzem os níveis circulantes de insulina e IGF-1, o que pode diminuir estímulos de crescimento tumoral (Bryan, 2014).

Estudos clínicos e pré-clínicos trazem resultados mistos:

  • Fine (2012): em 10 pacientes com câncer avançado submetidos à dieta cetogênica por 28 dias, 4 tiveram progressão, 5 permaneceram estáveis e 1 apresentou remissão parcial. A eficácia relacionou-se mais à intensidade da cetose do que à perda de peso.
  • Schimidt (2011): pacientes com tumores metastáticos em dieta cetogênica por 3 meses relataram melhora no funcionamento emocional e menos insônia. Outros parâmetros permaneceram estáveis ou pioraram, refletindo o avanço da doença. Não foram observadas alterações relevantes em colesterol e lipídios séricos, apenas constipação e fadiga em alguns casos.
  • Modelos animais: a dieta cetogênica reduziu o crescimento de tumores como glioma maligno, câncer de cólon, gástrico e de próstata. O jejum, que também induz cetose, mostrou potencial em aumentar a resposta à quimioterapia e até reduzir alguns de seus efeitos colaterais (Bryan, 2014).

Apesar dos resultados promissores em alguns estudos, os mecanismos exatos de ação ainda não estão totalmente esclarecidos. Além disso, os ensaios clínicos disponíveis apresentam limitações metodológicas e amostras pequenas, não sendo possível confirmar a segurança e eficácia da dieta cetogênica como tratamento oncológico.

    Além disso, pacientes em tratamento neoplásico de quimioterapia e radioterapia podem não se beneficiar de uma dieta mais restrita, já que em muitos casos o estado nutricional do paciente oncológico pode estar comprometido, em virtude da própria doença como nos casos de caquexia do câncer e também pelos efeitos colaterais que podem acontecer durante o tratamento como: perda de apetite, náusea, vômito, diarreia, mucosite etc.

    A nutrição de um paciente oncológico é um tratamento adjuvante que tem o objetivo de manter ou melhorar o estado nutricional, fortalecendo e capacitando o paciente para que ele consiga realizar o tratamento que necessita e ter a chance de cura ou melhor prognóstico e qualidade de vida. Diante disso, dietas como a cetogênica não são ou não deveriam ser aconselhadas pelo nutricionista.

Referências:

- I Consenso Brasileiro de Nutrição Oncológica da SBNO. Disponível em: https://www.sbno.com.br/assista-ao-vii-congresso-brasileiro-de-nutricao-oncologica-da-sbno/

Acessado em 10/09/2025.

- Dieta cetogênica e Câncer. Disponível em: https://sbno.com.br/dieta-cetogenica-e-cancer/   Acessado em 10/09/2025. 


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Dieta Cetogênica e Câncer

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