A dieta cetogênica é caracterizada por alto teor de
lipídeos, proteínas em quantidade moderada e baixa ingestão de carboidratos (até 10% das calorias diárias necessárias).
Seu objetivo é induzir o organismo a produzir corpos cetônicos,
usados como fonte alternativa de energia pelo cérebro. Foi desenvolvida
inicialmente nos Estados Unidos, no início do século XX, para tratar epilepsia
refratária a medicamentos (Pereira, 2010).
Nos últimos anos, a dieta tem sido estudada como uma estratégia
complementar no tratamento do câncer. A hipótese se baseia no fato de
que células normais podem se adaptar ao uso de ácidos graxos e corpos cetônicos
quando há baixa insulina, enquanto células tumorais dependem de glicose
como combustível. Dessa forma, reduzir carboidratos poderia teoricamente
limitar o crescimento tumoral. No entanto, o corpo humano ainda produz glicose
pela gliconeogênese, e células cancerígenas são eficientes em
aproveitar mesmo pequenas quantidades disponíveis. Além disso, dietas pobres em
carboidratos reduzem os níveis circulantes de insulina e IGF-1, o que pode
diminuir estímulos de crescimento tumoral (Bryan, 2014).
Estudos clínicos e pré-clínicos trazem resultados mistos:
- Fine
(2012):
em 10 pacientes com câncer avançado submetidos à dieta cetogênica por 28
dias, 4 tiveram progressão, 5 permaneceram estáveis e 1 apresentou
remissão parcial. A eficácia relacionou-se mais à intensidade da cetose do
que à perda de peso.
- Schimidt
(2011):
pacientes com tumores metastáticos em dieta cetogênica por 3 meses
relataram melhora no funcionamento
emocional e menos
insônia. Outros parâmetros permaneceram estáveis ou
pioraram, refletindo o avanço da doença. Não foram observadas alterações
relevantes em colesterol e lipídios séricos, apenas constipação e fadiga
em alguns casos.
- Modelos
animais:
a dieta cetogênica reduziu o crescimento de tumores como glioma maligno, câncer de cólon, gástrico
e de próstata. O jejum,
que também induz cetose, mostrou potencial em aumentar a resposta à
quimioterapia e até reduzir alguns de seus efeitos colaterais (Bryan,
2014).
Apesar dos resultados promissores em alguns estudos, os mecanismos
exatos de ação ainda não estão totalmente esclarecidos. Além disso, os
ensaios clínicos disponíveis apresentam limitações metodológicas e
amostras pequenas, não sendo possível confirmar a segurança e eficácia
da dieta cetogênica como tratamento oncológico.
Além disso, pacientes em tratamento neoplásico de quimioterapia e radioterapia podem não se beneficiar de uma dieta mais restrita, já que em muitos casos o estado nutricional do paciente oncológico pode estar comprometido, em virtude da própria doença como nos casos de caquexia do câncer e também pelos efeitos colaterais que podem acontecer durante o tratamento como: perda de apetite, náusea, vômito, diarreia, mucosite etc.
A nutrição de um paciente oncológico é um tratamento adjuvante que tem o objetivo de manter ou melhorar o estado nutricional, fortalecendo e capacitando o paciente para que ele consiga realizar o tratamento que necessita e ter a chance de cura ou melhor prognóstico e qualidade de vida. Diante disso, dietas como a cetogênica não são ou não deveriam ser aconselhadas pelo nutricionista.
Referências:
- I Consenso Brasileiro de Nutrição Oncológica da SBNO. Disponível em: https://www.sbno.com.br/assista-ao-vii-congresso-brasileiro-de-nutricao-oncologica-da-sbno/
Acessado em 10/09/2025.
- Dieta cetogênica e Câncer. Disponível em: https://sbno.com.br/dieta-cetogenica-e-cancer/ Acessado em 10/09/2025.